É COMÉDIA, mas é emocionante! O filme argentino GRANIZO, do diretor Marcos Carnevale, produção da Netflix, faz rir e faz chorar. A história é divertida e muito boa – toda boa história é aquela que consegue surpreender mesmo quando (e onde) ela é previsível. Esse é exatamente o caso de GRANIZO.
Um famoso meteorologista, que nunca errava suas previsões climáticas, tinha até um programa de tevê sobre o tempo. Era adorado pelo povo de Buenos Aires, que o considerava “infalível”. Mas um dia, como tudo na vida, sua previsão falhou e ele caiu em desgraça com seu público.
O tal meteorologista, Miguel Flores, vivido na tela pelo excelente (e bota excelente nisso!) Guillermo Francella, deixa de prever uma tempestade de granizo que devasta a capital argentina, pegando de surpresa a população e causando enormes transtornos ao povo portenho, que tanto confiava no popularíssimo analista e previsor do clima.
A revolta foi tanta que ele teve de se refugiar em sua cidade natal, Córdoba, onde vivia a filha, uma pediatra, com quem o pai famoso tinha um relacionamento frio, distante. Nesse refúgio, Miguel Flores passa por um processo de autoconhecimento e descobre que há coisas muito mais importantes na vida do que a fama – dentre elas, o amor da filha.
A partir daí, sem perder o tom de comédia, o filme propõe algumas questões existenciais interessantes, como a imprevisibilidade e a falsa sensação de controle que temos sobre o nosso próprio destino. Nem o tempo nem a vida são previsíveis! Creio que o filme trata, sim, do imponderável – mostra, com inteligência e bom humor, que tudo pode mudar de repente, e que as tempestades tanto podem resultar em tragédia quanto devolver a felicidade.
Nada sei sobre o trabalho do diretor Marcos Carnevale, mas a influência de Almodóvar – pelo menos em GRANIZO -, é inegável. Os diálogos cortantes; as cenas internas com cores ousadas e quentes; o ar retrô e customizado dos ambientes; a bela música latino-romântica (Felicitá)… tudo é almodovariano.
O desempenho do comediante Guillermo Francella, na pele do meteorologista Miguel Flores, vivendo um herói problemático tipicamente existencialista, é um show à parte, puro talento e carisma – tirei o chapéu! O diálogo de seu personagem com a filha é imperdível.
Enfim, “por fas ou por nefas” (como costumavam dizer os juristas mais antigos); seja pela história saborosíssima (fictícia), seja pela mensagem do filme, seja ainda pelo indisfarçável toque almodovariano, vale a pena ver o longa argentino; ponto para “los hermanitos”.
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